quarta-feira, 16 de novembro de 2011

sábado, 10 de novembro de 2007

LINGUAGEM E MAGIA

A preocupação com o idioma a ser utilizado nos ritos mágicos e evocações é muito antiga e tem gerado extensa polêmica. O filósofo neoplatônico Iâmblico, em seu livro “De Mysteriis”, já contesta Porfírio de Tiro e assegura que o sentido impenetrável dos nomes bárbaros usados em cerimônias religiosas corresponde à sua extrema antigüidade e que merecem, portanto toda veneração, pois possuem um caráter revelado que os aproxima da linguagem dos deuses.Muitos séculos mais tarde, em 1486, o filósofo e cabalista Pico de la Mirandola publica as suas polêmicas “Conclusões Mágicas e Cabalísticas”, nas quais afirma algumas teses aparentemente contraditórias. Nas conclusões de número XXVI ele diz que: “Toda voz tem virtude na magia, enquanto se forma pela voz de Deus.

As vozes não-significativas podem mais em magia do que as significativas, pelo profundo da conclusão precedente. Nenhum nome pode ter virtude na obra mágica, enquanto significativo e enquanto nome singular tomado em si mesmo, a não ser que seja hebraico ou um derivado direto.” Por outro lado, nos oráculos atribuídos a Zoroastro, o mesmo autor nos diz que “os nomes bárbaros, por não mudarem há muito tempo, possuem potência infalível.” Desde então as diversas escolas herméticas e mágicas estabeleceram várias abordagens para a comunicação com as entidades espirituais.

O legendário mago e alquimista elizabetano John Dee estabeleceu um marco pioneiro ao compilar as bases do idioma “enoquiano”, a língua falada pelos anjos com os quais mantinha contato por meio de uma série complexa de evocações. Até hoje a chamada “linguagem enóquia” é estudada e utilizada amplamente por magos do mundo inteiro, tendo a reputação de instrumento extremamente eficaz. Um exemplo desse idioma:

Madariatza das perifa Lil cabisa micaolazoda saanire caosago de fifia balzodizodarasa iada. Nonuca gohulime: micama adoianu mada faods beliorebe, soba ooanoa cabisa luciftias yaripesol, das aberaasasa nonucafe jimicalazodoma larasada tofejilo marebe pereryo Idoigo od torezodulape...

A tradução é: “Oh, vós, céus que habitam o primeiro ar, sois poderosos nas partes da terra e executais o julgamento do altíssimo. A vós, disse-se: -Contempla a face de vosso Deus, o início do Conforto, cujos olhos são o esplendor dos céus, que vos deu o governo da terra e sua indizível variedade...”

Outro idioma místico é o “senzar”, uma língua que seria falada pelos Mestres e Adeptos do Himalaia, ensinada individualmente a cada discípulo. Possui um alfabeto próprio de natureza ideogramática e a tradição quer que seja oriundo da linguagem que os deuses utilizavam para falar com os primeiros Iniciados. Naturalmente, é um idioma do qual não foi possível encontrar nenhum exemplo concreto.

Os cabalistas, por sua vez, preferem o uso do hebraico, idioma considerado sagrado e com o qual Deus conversa com Seus anjos. Apesar da premissa bastante exacerbada de supor a intimidade do Altíssimo, o hebraico de fato manifesta excelente poder de atuação junto a toda sorte de entidades espirituais. Mesmo os demônios ancestrais da Suméria e da Babilônia compreendem os comandos e banimentos em hebraico, principalmente o “Kaddish”, a oração pelos mortos. O fato parece corresponder à natureza específica do alfabeto hebraico, cuja forma atual remonta a Esdras e ao cativeiro da Babilônia. Elaborado com um arte e geometria, suas 22 letras correspondem aos 22 polígonos regulares e aos 22 arcanos do Tarot, sendo passíveis de vários tipos de combinações específicas da Kabbalah, tais como a Gematria e a Temura, por meio das quais revelam-se novos sentidos em cada palavra. Trata-se, portanto, de uma característica própria do hebraico a eficácia na comunicação com entidades espirituais.

Outro idioma de grande utilização por várias escolas místicas é o sânscrito, conhecido como “Devanagari”, a escrita dos deuses. Possivelmente devido à sua antigüidade, apresenta uma qualidade mântrica muito especial, provocando efeitos vibratórios intensos ao redor de quem o utiliza. Dentre os idiomas místicos, é o mais musical, apresentando mantras de grande beleza. Talvez por isso seja utilizado quase sempre em operações mágicas que envolvam as Forças da Luz, embora também possa servir aos efeitos contrários.

O latim, apesar da reputação de que goza em alguns círculos mais influenciados pelo catolicismo e sua liturgia, na verdade é o menos eficaz e o que apresenta maior dificuldade no seu uso. Para que seja útil é necessário que o operador possua uma clara consciência de seu significado, o que, se é essencial para todos os idiomas, é ainda mais necessário no uso do latim, prejudicado pelos usos sacerdotais da Igreja Católica.

Idiomas ágrafos como os de povos nativos, africanos e aborígines, também carregam um enorme poder, principalmente pelo tipo de mentalidade integrada com a natureza que permite a comunicação espiritual direta. O “iorubá”, o “patois”, o “papiamento” e outros idiomas e dialetos são também excelentes meios de comunicação espiritual, mas exigem uma grande identificação e ligação com a cultura específica.

Em qualquer idioma que se opere, o fundamental é a compreensão perfeita do que está sendo enunciado, o que só é possível por meio de uma meditação profunda e um envolvimento crescente com a linguagem utilizada.

Seres espirituais como anjos e demônios compreendem perfeitamente o sentido de qualquer declaração em qualquer idioma, desde que haja uma intensa energia emocional envolvida.

Palavras vazias caem no vazio e essas poderosas entidades simplesmente ignoram ritos estéreis e desprovidos de alma. Em função disso podemos compreender porque, em princípio, qualquer idioma pode ser utilizado, desde que a pessoa possa expressar-se nele com desenvoltura.

Muitos ritos enfatizam expressamente a correta pronúncia e o fato de que nenhuma sílaba seja trocada. Mesmo assim, uma decidida e clara proclamação no idioma natal pode ser eficiente. O que é preciso é evitar o ranço aristocrático de utilizar um idioma porque é antigo ou exótico.

Apenas um número muito restrito de obras mágicas exige idiomas específicos. Como uma operação da alma e do coração, a Magia exige apenas coerência entre a intenção e o gesto.

Algumas vezes as palavras podem ser insuficientes e o silêncio, a música ou as lágrimas podem dizer tudo o que os anjos precisam saber.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

terça-feira, 23 de outubro de 2007

ALQUIMIA


Pelo que sabemos, o ouro tornou-se um padrão monetário por volta do ano 3000 A.C, por iniciativa do Rei Creso da Lídia. Desde então, tem-se dito e o tempo tem comprovado que "o ouro é a única religião comum a toda Humanidade".Certamente por isso a busca pela forma de fabricá-lo tornou-se uma obsessão que atravessa os milênios. No entanto, a busca por ele era a última das preocupações dos verdadeiros alquimistas. O objetivo fundamental era encontrar a Pedra Filosofal, o fruto supremo da Obra Magna que, muito mais do que um instrumento para transformar os metais em ouro, era o símbolo vivo da Eternidade e uma ponte entre os mundos. Para produzi-la era necessário um trabalho que atravessava as décadas e, às vezes, gerações de uma mesma família. Reduzir esse esforço de toda uma vida a uma mera busca por dinheiro é ignorar os mistérios de uma arte milenar que, ainda hoje, supera os avanços das técnicas científicas. Além de transmutar os metais em ouro, os alquimistas podiam fabricar ou consertar qualquer tipo de pedras preciosas, colorir o ouro e a prata, criar metais que brilhavam no escuro e manter indefinidamente a saúde e a juventude por meio do Elixir da Longa Vida. Nomes como os de Paracelso, Cornélio Agrippa, Conde de Saint-Germain, Abade Trithemio, John Dee, Maria, a Judia* e muitos outros compõem hoje em dia uma galeria legendária, mas foram os maiores sábios de suas épocas. Para que possamos compreender melhor esse estranho fenômeno cultural precisamos estabelecer algumas noções básicas.

* A mais famosa alquimista, inventora do processo que hoje conhecemos como banho-maria.


A OBRA



A palavra alquimia é tida como sendo egípcia e significaria "terra negra". Sabemos que os antigos egípcios dedicavam-se a ela e que os árabes a elevaram a categoria de verdadeira ciência, mas as fontes a respeito são bastante escassas. A arte alquímica entre os chineses adquiriu os contornos de uma ciência secreta, influenciada diretamente pelo Taoísmo e matizada por técnicas sexuais.

Os objetivos, por outro lado, eram semelhantes quanto à evolução espiritual do próprio alquimista. A arte alquímica ocidental, por sua vez, legou-nos uma infinidade de tratados e de textos, a mais das vezes absolutamente incompreensíveis, possivelmente porque já não possuímos mais a "chave" simbólica ou criptográfica para interpretá-los corretamente.


Os alquimistas chamavam seu trabalho de "Magna Opus", a Grande Obra e sobre ela é que foi dito que "ars longa, vita brevis" (a arte é longa e a vida é breve) e "ars totum requirit hominem" (a arte exige o homem por inteiro). Apesar das infinitas diferenças entre as escolas alquímicas, é possível estabelecer alguns pontos comuns. Os textos alquímicos, apesar da enorme disparidade que apresentam, concordam que a "Matéria" é "uma das coisas mais comuns sobre a Terra, encontrada em todas as partes em abundância e os homens não lhe dão o menor valor". Aqui já temos o começo do mistério. Em função disso, as diferentes escolas alquímicas operaram com os mais variados materiais. O sangue e os diversos fluidos corporais, o orvalho ou a água, a terra, as excreções, ossos, grama, chumbo e qualquer outra coisa em que se possa pensar foram utilizadas. Naturalmente, os alquimistas bem-sucedidos nunca revelaram sobre que elemento operaram para obter o resultado. Mesmo assim, sabemos que era por meio de um longo processo termo-químico, dividido em várias fases que a natureza da matéria original era transformada, de dentro para fora, por si mesma. O resultado final era como "luz do sol condensada", capaz de extrair a luz interior de qualquer metal e transformá-lo também em ouro. Segundo alguns relatos, ao final do processo a matéria dividia-se em duas partes: a sólida, uma pequena pedra, era a Pedra Filosofal. A líquida era o Elixir da Longa Vida, uma substância capaz de manter a juventude e a saúde indefinidamente. Isso ajudaria a explicar casos como o do Conde de Saint-Germain, que permanecia imutável ao longo dos séculos. Por outro lado, todos também concordam que a busca era extremamente perigosa, pois o "athanor", o forno filosofal, podia explodir ou a matéria emitir gases venenosos ou insalubres. Noites de vigília, jejuns, penitências diversas e muita prece deveriam acompanhar necessariamente o trabalho do alquimista.


Toda doutrina alquímica baseia-se na combinação entre os Quatro Elementos (fogo, terra, água e ar) e a chamada Trindade Alquímica: o Sal, o Enxofre e o Mercúrio, que não devem ser confundidos com os elementos físicos de mesmo nome.


O Sal era o chamado elemento fixador, por meio do qual as coisas mantêm a sua estrutura interior organizada e sua forma externa estável.


O Enxofre representava o elemento "Yang" (embora o nome oriental fosse desconhecido pelos alquimistas, o conceito era o mesmo), o de um componente vital em todas as coisas, uma chama secreta que nos transmite a vida e que habita em tudo em grau diferente.


O Mercúrio filosofal era o componente feminino, Yin, a força criadora receptiva e dissolvente, a mais sutil de todas, também presente em toda a Criação. Também é necessário não confundir com o Mercúrio Filosofal em seu aspecto de "Rebis", a "Coisa Dupla", o elemento misterioso no qual se conjugavam pela primeira vez as qualidades masculinas e femininas e que iria gerar a Pedra, como um "filho".


O que está bem estabelecido é que o trabalho dividia-se em fases. Primeiro vinha a chamada "Obra em Negro", ou "Cabeça de Corvo", ou fase da "nigredo". Era o estágio inicial, no qual a matéria era reduzida, calcinada pelo fogo, mas de forma calculada, a fim de que essa mesma calcinação gerasse um "vapor" e uma "umidade" que deveriam recair sobre a massa informe e trazê-la à "vida" novamente.


Na fase seguinte, a "albedo", a matéria era progressivamente purificada, tornando-se branca e adquirindo qualidades novas. A última fase, a "rubedo", consistia em "aquecer" novamente a matéria até que ela tomasse uma aparência de rubi, avermelhada e incandescente. Uma vez iniciado o processo era impossível revertê-lo ou renunciar a ele. A alquimia, portanto, era uma prática e um sistema de crenças que reuniam o domínio das técnicas físico-químicas com os objetivos da espiritualidade. Dessa forma, é natural que, ao longo dos séculos, fosse interpretada pelas novas ciências, como a Psicologia e a Psiquiatria. O trabalho de C. G. Jung na leitura do simbolismo alquímico como etapas de um processo de individuação abrange diversas de suas obras, principalmente "Misteryum Conniuctionis", "O Mito do Andrógino" e outros.



Rebis


ALQUIMIA HOJE



Como qualquer outro conhecimento oculto, a tradição alquímica prosseguiu intacta até nossos dias. Muitas escolas, ordens e grupos hermetistas dedicam-se ainda hoje à busca dos segredos alquímicos. No entanto, um dos mais poderosos e públicos exemplos foi dado nos anos 50, quando um homem chamado Fulcanelli publicou "O Mistério das Catedrais", um precioso documento ainda hoje pesquisado. Consta que ele também teria produzido ouro diante de testemunhas. Desnecessário acrescentar que pouco depois desapareceu sem deixar rastros, assim como tinha surgido. No Museu de Praga há moedas cunhadas com ouro alquímico fabricado em presença da Corte, tendo um grau de pureza nunca visto. Em nosso meio já foram vistos cristais "mágicos", fabricados por meios desconhecidos mas não propriamente alquímicos. Duas dessas peças vieram parar em minhas mãos. Tinham aspecto e dureza muito semelhantes aos do cristal de quartzo, mas possuíam a inquietante propriedade de mudarem de cor de acordo com o estado emocional de seu possuidor. Especialistas em Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul confessaram-se incapazes de determinar o que eram ou como foram produzidos. Esses exemplares permaneceram em meu poder por dois anos até que passaram a apresentar desagradáveis manifestações de energia negativa e foram dissolvidos em água corrente. Supostamente teriam sido fabricados por um grupo de alquimistas de São Paulo com ramificações em Montevidéu.


O LADO NEGRO


Devido ao enorme apelo que o ouro exerce sobre as almas mais primitivas, é natural que a história registre algumas aberrações supostamente relacionadas com a Alquimia. Os principais exemplos são: Gilles de Rais, que deu origem ao mito do Barbazul e a Condessa de Bathory. Ele foi enforcado depois do desaparecimento de vários meninos, o que chamou a atenção das autoridades. Em sua confissão Gilles admitiu que, com o auxílio de seus comparsas buscava fabricar ouro por meio do sangue das pobres crianças. Ao que parece, o demônio não ficou satisfeito com tanta "devoção" e Gilles foi executado com toda a pompa em fins de outubro de 1440. Em outro exemplo terrível de como a ignorância sobre a Alquimia pode reunir-se com a mera maldade temos o chocante exemplo da Condessa Elisabeth Bathory, da Hungria, que buscava a eterna juventude banhando-se no sangue de virgens que mandava seus agentes procurar entre as camponesas. Foi emparedada viva em 1610, acusada da morte de cerca de 600 jovens. Cabe notar que dentro das artes negras existem demônios tradicionalmente invocados como possuidores dos segredos da Alquimia. O primeiro é Barbatos, famoso entre os alquimistas sem fé, aos quais concedia o segredo da Pedra Filosofal em troca de suas almas. O segundo é Beherito, também conhecido como Berito, o qual passa por possuir o segredo da transmutação dos metais. Mesmo assim, dentre os raros alquimistas que lograram atingir o final da Obra não há registro de nenhum que tenha seguido por essas trilhas escuras e sangrentas.


A TÁBUA DE ESMERALDA


Para que o interessado possa prosseguir seus estudos sobre o tema, deve primeiro familiarizar-se com o texto que apresentamos a seguir e que é o compêndio mais autêntico e mais conciso sobre a Arte. É chamado de "Tábua de Esmeralda" e reza a Tradição que teria sido encontrado por um dos soldados de Alexandre Magno em sua Campanha do Egito. Foi traduzido para o latim por volta de 1200 e influenciou diretamente toda pesquisa alquímica dos próximos séculos. Estaria gravada em grego em uma placa de esmeralda (a pedra de Hermes/Mercúrio) e é a base de toda doutrina alquímica.


"É verdade, sem ficção, certo e muito verdadeiro.


Que aquilo que está embaixo é como o que está em cima,


E aquilo que está em cima é como o que está embaixo,


Para que se cumpram os milagres da Coisa Única.


Assim como tudo veio do Um por sua própria mediação,


Assim todas as coisas nascem dele por adaptação.


O Sol é o seu pai, a Lua é sua mãe, o Vento o embalou em seu ventre,


A Terra é sua ama.


Esse é o pai do mistério do mundo.


Sua força é poderosa se é convertida em terra.


Separarás a terra do fogo, o sutil do espesso,habilmente,


Com grande prudência e critério.


Sobe da terra ao céu e desce novamente do céu à terra, recolhendo


A força das coisas superiores e inferiores. Assim fazendo terás toda


A glória do mundo e toda treva se afastará de ti.


Essa é a força mais forte que a força, que vencerá tudo o que é sutil


E penetrará tudo o que é sólido.


Assim foi criado o mundo.


Disso derivam admiráveis adaptações cujo segredo está todo aqui.


Por isso fui chamado Hermes Trismegisto,


conhecedor das três filosofias do mundo.


O que eu disse da Obra Solar é completo."

VAMPIROS: REFERÊNCIAS HISTÓRICAS

Apesar das repetidas versões literárias e cinematográficas sobre os vampiros o assunto é bem extenso e muito mais complexo do que parece. Infelizmente, as notícias não são muito tranqüilizadoras. Todas as evidências (inclusive históricas) apontam para o fato de que os vampiros existem há milênios. Desde a Suméria e a Babilônia há inúmeros relatos, cujos teores oscilam entre o policial e o religioso, havendo inclusive várias palavras para denominá-los. Os gregos e os romanos também conheciam esse terror e nos deixaram relatos bastante coincidentes: a sede de sangue para manter um simulacro de vida, a constante visitação noturna e a morte de suas vítimas, após um longo período de enfraquecimento.
A natureza lunar desses seres também é um fato bem estabelecido, já que as criaturas astrais apenas ao abrigo da escuridão podem delinear suas existências um pouco mais objetivamente. A luz do Sol, em sua crueza, tem o dom de revelar as coisas em seu verdadeiro aspecto e, portanto, impede as ilusões das Trevas e seus sortilégios. É durante a noite que os sonhos e os pesadelos prosperam, enquanto os mortais descansam inocentemente.
Devido ao tamanho desmedido da fome dessas criaturas os delírios do álcool, das drogas e da solidão parecem apenas pálido reflexo da necessidade frenética que anima os vampiros e outros predadores noturnos. Não é apenas o sangue que os vampiros podem tirar para sua nutrição predatória: a esperança, a alegria, a fé e outros elementos espirituais também podem servir como combustível para animar velhas formas obsoletas e ressequidas. Essa é a verdadeira natureza desses entes híbridos entre humano e demônio: permanecer estático, imutável, imortal. Basta, no entanto, um segundo de reflexão para perceber que o tão propalado benefício da imortalidade é, na verdade, uma requintada forma de maldição.



De fato, o que nos torna tão especiais e nos enche de prazer é justamente a presença constante e inevitável da Morte. Entre os mortais tudo é único, precioso, irrecuperável e se o tédio nos abate é apenas por nossa própria culpa. A hipótese, no entanto, de uma existência interminável, ou pelo menos secular, deveria encher de terror as almas insatisfeitas com as aparências cambiantes de uma vida com a qual não se identificam. Nesse sentido, morrer é nada além de uma chance para não ser, ou para ser diferente, chance da qual abrem mão alegremente os aspirantes a vampiro, possivelmente muito felizes de serem o que são, em uma tese contrária à própria natureza da Filosofia.
As pesquisas históricas nos indicam que a principal epidemia de vampirismo ocorreu entre os anos de 1730 a 1735 em vários países da Europa Central, atingindo a Polônia, a Silésia, a Hungria, a Sérvia e outros. O fato foi, à época, amplamente relatado e depois convenientemente esquecido. No entanto, vários tratados sobre o tema foram escritos, dentre eles o inesquecível “De masticacione mortuorum in tumulus”, de 1734, de Michael Ranft, bem como a famosa “ Dissertation sur les apparitions dês anges, dês demons et dês esprit, et sûr les révenans et vampires de Hongrie, de Boheme, de Moravia et de Silesia” (Paris, 1746-trad.inglesa, London, 1750), do renomado teólogo Padre Dom Augustin Calmet.
É referido que algumas cidades do mundo apresentam amplas facilidades para as comodidades cotidianas dos vampiros. Dentre elas, as principais são Paris, Roma, Nova Iorque, Veneza, Praga, Amsterdam, São Paulo e Londres. O caráter cosmopolita de todas e lúgubre de algumas asseguraria a perfeita camuflagem dos seres noturnos.
É preciso enfatizar, no entanto, que ao contrário do que nos afirma Hollywood, os vampiros são seres frágeis, enfermiços, presos a limites estritos, o que os faz serem necessariamente dissimulados, como os morcegos hematófagos cuja saliva anestésica permite que degustem suas presas sem acordá-las. A metáfora aplica-se perfeitamente aos predadores que ora analisamos.
Algumas tradições asseguram que se o vampiro for ferido pelo simples espinho de uma rosa vermelha sangrará até a morte, inexoravelmente. Outra crença muito usada é a de que se a vítima de um vampiro desenhar em um papel a figura dele, ainda que de forma grosseira, capturará a sua forma, inviabilizando o ataque. Queimar a efígie é mera finalização natural do rito...
É curioso observar que a crença nesses predadores noturnos do homem perdura intacta em nossos dias, como um simples e frio exame nos noticiários pode constatar:
Entre 2002 e 2003, em Malawi, na África, uma histeria em massa levou uma multidão a apedrejar um homem até à morte e atacar quatro outros, entre os quais o Governador Eric Chiwaya, por acreditarem que o governo cooperava com os vampiros.
Em fevereiro de 2004, na Romênia, vários parentes de um homem falecido chamado Toma Petre chegaram à conclusão ( não se sabe por que meios ) de que ele tinha transformado-se em vampiro. Assim, desenterraram o corpo, arrancaram-lhe o coração, queimaram-no e misturaram as cinzas com água, que foi bebida por todos.
Em 2005, rumores sobre ataques de vampiros sacudiram a cidade de Birmingham, mas a polícia não relatou nenhum caso, atribuindo os boatos a uma “lenda urbana”.
Em 2007, um grupo que se intitulava “caçadores de vampiros” profanou a tumba do ditador Slobodan Milosevic e cravou-lhe uma estaca no coração, prendendo-o ao solo. A alegação foi de que agiam assim para que ele não retornasse como vampiro. A medida não chegou a causar espanto...
A convicção da existência dos “upirs”, “brucolacos”, “nosferatus”, ou vampiros, permanece intacta na moderna Grécia e em muitas regiões da Hungria, Rússia, Romênia, Bulgária e Polônia. Como se vê, estamos diante de um mistério ancestral que convive com o homem há incontáveis gerações e que provavelmente nos acompanhará até o fim. O principal é observar que existem várias formas de vampirismo, consciente ou inconsciente, mas que todas, de uma forma ou de outra, participam das características próprias da Magia Negra: tomar o que não é seu, viver causando a morte dos outros, buscar a eternização da forma, permanecer imutável, duro e frio como uma lápide. Desnecessário acrescentar que essas criaturas não contam com a minha simpatia. Graças a Deus e para sorte deles, não cruzam o meu caminho...reze para que também não cruzem com o seu.

O CONDE SAINT-GERMAIN



A verdadeira identidade do homem que conhecemos como o Conde de Saint-Germain é hoje em dia um mistério ainda maior do que foi no período que o tornou célebre. Segundo René Alleau, ele seria um príncipe da Transilvânia, chamado Leopold Georges Rakoczy e teria nascido em 1696 em Kis-Tapolcsany. O historiador Frederic Buleau crê que ele tenha sido o filho do arrecadador de impostos de uma aldeia da Sabóia. Alguns acreditam que era parente de Henrique IV, o que explicaria o seu livre trânsito junto a nobreza européia. As datas de 1697 e 1710 também são cogitadas para o seu nascimento. No entanto, em 1710 justamente, há registro de uma passagem do Conde por Veneza, então com a aparência que sempre teria: a de um homem de quarenta e poucos anos de idade. Mesmo sua ligação com os Rakoczy é incerta, possivelmente adotiva. Teria sido criado pelo último dos Médici e foi beneficiado pelo testamento do Príncipe Franz-Leopold Ragkoczy, seu suposto pai. Outro problema em determinar a sua verdadeira identidade está no fato de que, seguindo um hábito comum entre as pessoas nobres da época, o Conde apresentava-se com vários nomes e títulos. Assim, por exemplo, entre 1710 e 1822 ele apareceu como Marquês de Montferrat, Conde Bellamarre ou Aymar em Veneza, Chevalier Schoening em Pisa, Chevalier Weldon em Milão e Leipzig, Conde Soltikoff em Gênova e Leghorn, Graf Tzarogy em Schwalbach e Triesdorf, Príncipe Rakoczy em Dresden e como Conde de Saint-Germain em Paris, Haia, Londres e São Petersburgo. Há rumores de que ele também teria sido o Conde Hompesh, o último Grão-Mestre dos Cavaleiros de Malta...Sua trajetória vertiginosa pela Europa teria terminado em 27 de fevereiro de 1784, no Castelo do Príncipe Karl de Hesse e teria sido enterrado a 02 de março, segundo os registros da Igreja de Eckernförde. Mesmo assim, a 15 de fevereiro do ano seguinte, Saint-Germain é escolhido como um dos representantes dos maçons franceses na Grande Conferência Maçônica de Paris, atuando com destaque! Em 1788 conversa com o Conde de Châlons na Piazza San Marco, em Veneza. Em 1789 adverte Maria Antonieta e Mme. D’Adhemar sobre a Revolução iminente, em termos implacáveis, inclusive prevendo a morte delas pelas mãos do carrasco. Ao que se sabe, essa teria sido a última aparição comprovada do misterioso personagem a quem o filósofo Voltaire (ninguém menos) chamava de “o homem que não morre e que sabe tudo”.Esgotadas as citações históricas, passamos a analisar as referências aos poderes e aos talentos extraordinários desse grande mestre ao qual a maioria das ordens esotéricas reinvindica como fundador ou inspirador. Inclusive, atualmente, Saint-Germain desfruta de um culto específico dentro da Fraternidade Branca, onde é tido como o Mestre Ascencionado responsável pelo Sétimo Raio e pela Chama Violeta.Alquimista de renome, capaz de transformar metais em ouro, como diante de Casanova, que o conta em suas “Memórias” e de retificar a impureza de um diamante, como fez para Luis XV, algo que nem mesmo a ciência moderna pode fazer, distribuía despreocupadamente pedras preciosas e ouro que alegava fabricar com o auxílio da Pedra Filosofal. Quando foi preso por espionagem em Londres, em 1745, brilhava nos salões como exímio violinista e executor de clavicórdio. Excelente pintor, de quadros cujas cores possuíam raro brilho e cujo segredo não revelava, Saint-Germain ainda possuía vários talentos inexplicáveis, como a capacidade de escrever ao mesmo tempo com as duas mãos e o desconcertante poder de falar qualquer idioma como se fosse natural do país. Dentre os idiomas que comprovadamente dominava estavam: russo, inglês, francês, espanhol, português, italiano, grego, latim, sânscrito, árabe e chinês, bem como os idiomas e dialetos da Europa Central. Aos que se espantavam dessa capacidade ele apenas respondia, com naturalidade, que não deveria surpreender que um imortal acabasse aprendendo a maioria dos idiomas do mundo. Isso também explicava o fato de que parecia conhecer intimamente qualquer cidade do planeta, o que demonstrava constantemente ao conversar com viajantes de lugares distantes, quase sempre trazidos apenas para desmascará-lo e que acabavam boquiabertos, perplexos diante do conhecimento que ele demonstrava, como se tivesse crescido em todas as cidades. Quase todos o tomavam por um conterrâneo que por algum motivo negava a sua nacionalidade. Outro fator que muito contribuía para a sua fama era a atitude desaforada que possuía, agindo o tempo todo como o imortal que dizia ser. Sagaz e astuto como um homem de “marketing”, atuava para as multidões que o seguiam pela rua como a um eclipse: sem olhar diretamente. Contam as lendas que uma vez parou diante de um crucifixo e comentou com seu criado: “- Impressionante como alguém que nunca o viu pôde retratá-lo tão fielmente...” A declaração caiu na multidão que o seguia como uma bomba. Com a respiração suspensa, ouviram quando o criado disse: “- Esquece, mestre, de que só o sirvo há quatrocentos anos...” Apesar de freqüentar os salões da nobreza, fazia as refeições sozinho, quase sempre vegetarianas. Raramente tomava vinho, nunca se casou e nunca foi desmentido em suas alegações. Sua principal obra é “A Santíssima Trinosofia”, uma das poucas que lhe podem ser corretamente atribuídas e que trata de alquimia em termos bastante obscuros. Também deixou duas partituras de sua autoria, atualmente no Museu Britânico. De uma forma ou de outra, sua morte não foi suficientemente plausível e o mito de sua imortalidade persiste ainda hoje, embora os relatos modernos de suas aparições não possam ser comprovados. É natural que a fascinante personalidade do Imortal viva também na literatura modrena. Giovanni Papini, por exemplo, nos deixou uma bela página em seu livro "Gog", na qual relata um suposto encontro com o Conde durante uma viagem de navio. Aos olhos deste cronista (considerando que os alquimistas possuíam o célebre Elixir da Longa Vida) é bem possível que o Conde possa dedicar um pouco de seu tempo infinito a navegar pela Internet e que acabe ( por que não? ) lendo esta pequena nota.Se assim acontecer, que receba a nossa humilde homenagem e o imenso respeito devido a todos aqueles que dedicam a Vida à busca do Conhecimento.