terça-feira, 23 de outubro de 2007

VAMPIROS: REFERÊNCIAS HISTÓRICAS

Apesar das repetidas versões literárias e cinematográficas sobre os vampiros o assunto é bem extenso e muito mais complexo do que parece. Infelizmente, as notícias não são muito tranqüilizadoras. Todas as evidências (inclusive históricas) apontam para o fato de que os vampiros existem há milênios. Desde a Suméria e a Babilônia há inúmeros relatos, cujos teores oscilam entre o policial e o religioso, havendo inclusive várias palavras para denominá-los. Os gregos e os romanos também conheciam esse terror e nos deixaram relatos bastante coincidentes: a sede de sangue para manter um simulacro de vida, a constante visitação noturna e a morte de suas vítimas, após um longo período de enfraquecimento.
A natureza lunar desses seres também é um fato bem estabelecido, já que as criaturas astrais apenas ao abrigo da escuridão podem delinear suas existências um pouco mais objetivamente. A luz do Sol, em sua crueza, tem o dom de revelar as coisas em seu verdadeiro aspecto e, portanto, impede as ilusões das Trevas e seus sortilégios. É durante a noite que os sonhos e os pesadelos prosperam, enquanto os mortais descansam inocentemente.
Devido ao tamanho desmedido da fome dessas criaturas os delírios do álcool, das drogas e da solidão parecem apenas pálido reflexo da necessidade frenética que anima os vampiros e outros predadores noturnos. Não é apenas o sangue que os vampiros podem tirar para sua nutrição predatória: a esperança, a alegria, a fé e outros elementos espirituais também podem servir como combustível para animar velhas formas obsoletas e ressequidas. Essa é a verdadeira natureza desses entes híbridos entre humano e demônio: permanecer estático, imutável, imortal. Basta, no entanto, um segundo de reflexão para perceber que o tão propalado benefício da imortalidade é, na verdade, uma requintada forma de maldição.



De fato, o que nos torna tão especiais e nos enche de prazer é justamente a presença constante e inevitável da Morte. Entre os mortais tudo é único, precioso, irrecuperável e se o tédio nos abate é apenas por nossa própria culpa. A hipótese, no entanto, de uma existência interminável, ou pelo menos secular, deveria encher de terror as almas insatisfeitas com as aparências cambiantes de uma vida com a qual não se identificam. Nesse sentido, morrer é nada além de uma chance para não ser, ou para ser diferente, chance da qual abrem mão alegremente os aspirantes a vampiro, possivelmente muito felizes de serem o que são, em uma tese contrária à própria natureza da Filosofia.
As pesquisas históricas nos indicam que a principal epidemia de vampirismo ocorreu entre os anos de 1730 a 1735 em vários países da Europa Central, atingindo a Polônia, a Silésia, a Hungria, a Sérvia e outros. O fato foi, à época, amplamente relatado e depois convenientemente esquecido. No entanto, vários tratados sobre o tema foram escritos, dentre eles o inesquecível “De masticacione mortuorum in tumulus”, de 1734, de Michael Ranft, bem como a famosa “ Dissertation sur les apparitions dês anges, dês demons et dês esprit, et sûr les révenans et vampires de Hongrie, de Boheme, de Moravia et de Silesia” (Paris, 1746-trad.inglesa, London, 1750), do renomado teólogo Padre Dom Augustin Calmet.
É referido que algumas cidades do mundo apresentam amplas facilidades para as comodidades cotidianas dos vampiros. Dentre elas, as principais são Paris, Roma, Nova Iorque, Veneza, Praga, Amsterdam, São Paulo e Londres. O caráter cosmopolita de todas e lúgubre de algumas asseguraria a perfeita camuflagem dos seres noturnos.
É preciso enfatizar, no entanto, que ao contrário do que nos afirma Hollywood, os vampiros são seres frágeis, enfermiços, presos a limites estritos, o que os faz serem necessariamente dissimulados, como os morcegos hematófagos cuja saliva anestésica permite que degustem suas presas sem acordá-las. A metáfora aplica-se perfeitamente aos predadores que ora analisamos.
Algumas tradições asseguram que se o vampiro for ferido pelo simples espinho de uma rosa vermelha sangrará até a morte, inexoravelmente. Outra crença muito usada é a de que se a vítima de um vampiro desenhar em um papel a figura dele, ainda que de forma grosseira, capturará a sua forma, inviabilizando o ataque. Queimar a efígie é mera finalização natural do rito...
É curioso observar que a crença nesses predadores noturnos do homem perdura intacta em nossos dias, como um simples e frio exame nos noticiários pode constatar:
Entre 2002 e 2003, em Malawi, na África, uma histeria em massa levou uma multidão a apedrejar um homem até à morte e atacar quatro outros, entre os quais o Governador Eric Chiwaya, por acreditarem que o governo cooperava com os vampiros.
Em fevereiro de 2004, na Romênia, vários parentes de um homem falecido chamado Toma Petre chegaram à conclusão ( não se sabe por que meios ) de que ele tinha transformado-se em vampiro. Assim, desenterraram o corpo, arrancaram-lhe o coração, queimaram-no e misturaram as cinzas com água, que foi bebida por todos.
Em 2005, rumores sobre ataques de vampiros sacudiram a cidade de Birmingham, mas a polícia não relatou nenhum caso, atribuindo os boatos a uma “lenda urbana”.
Em 2007, um grupo que se intitulava “caçadores de vampiros” profanou a tumba do ditador Slobodan Milosevic e cravou-lhe uma estaca no coração, prendendo-o ao solo. A alegação foi de que agiam assim para que ele não retornasse como vampiro. A medida não chegou a causar espanto...
A convicção da existência dos “upirs”, “brucolacos”, “nosferatus”, ou vampiros, permanece intacta na moderna Grécia e em muitas regiões da Hungria, Rússia, Romênia, Bulgária e Polônia. Como se vê, estamos diante de um mistério ancestral que convive com o homem há incontáveis gerações e que provavelmente nos acompanhará até o fim. O principal é observar que existem várias formas de vampirismo, consciente ou inconsciente, mas que todas, de uma forma ou de outra, participam das características próprias da Magia Negra: tomar o que não é seu, viver causando a morte dos outros, buscar a eternização da forma, permanecer imutável, duro e frio como uma lápide. Desnecessário acrescentar que essas criaturas não contam com a minha simpatia. Graças a Deus e para sorte deles, não cruzam o meu caminho...reze para que também não cruzem com o seu.

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