terça-feira, 23 de outubro de 2007

ALQUIMIA


Pelo que sabemos, o ouro tornou-se um padrão monetário por volta do ano 3000 A.C, por iniciativa do Rei Creso da Lídia. Desde então, tem-se dito e o tempo tem comprovado que "o ouro é a única religião comum a toda Humanidade".Certamente por isso a busca pela forma de fabricá-lo tornou-se uma obsessão que atravessa os milênios. No entanto, a busca por ele era a última das preocupações dos verdadeiros alquimistas. O objetivo fundamental era encontrar a Pedra Filosofal, o fruto supremo da Obra Magna que, muito mais do que um instrumento para transformar os metais em ouro, era o símbolo vivo da Eternidade e uma ponte entre os mundos. Para produzi-la era necessário um trabalho que atravessava as décadas e, às vezes, gerações de uma mesma família. Reduzir esse esforço de toda uma vida a uma mera busca por dinheiro é ignorar os mistérios de uma arte milenar que, ainda hoje, supera os avanços das técnicas científicas. Além de transmutar os metais em ouro, os alquimistas podiam fabricar ou consertar qualquer tipo de pedras preciosas, colorir o ouro e a prata, criar metais que brilhavam no escuro e manter indefinidamente a saúde e a juventude por meio do Elixir da Longa Vida. Nomes como os de Paracelso, Cornélio Agrippa, Conde de Saint-Germain, Abade Trithemio, John Dee, Maria, a Judia* e muitos outros compõem hoje em dia uma galeria legendária, mas foram os maiores sábios de suas épocas. Para que possamos compreender melhor esse estranho fenômeno cultural precisamos estabelecer algumas noções básicas.

* A mais famosa alquimista, inventora do processo que hoje conhecemos como banho-maria.


A OBRA



A palavra alquimia é tida como sendo egípcia e significaria "terra negra". Sabemos que os antigos egípcios dedicavam-se a ela e que os árabes a elevaram a categoria de verdadeira ciência, mas as fontes a respeito são bastante escassas. A arte alquímica entre os chineses adquiriu os contornos de uma ciência secreta, influenciada diretamente pelo Taoísmo e matizada por técnicas sexuais.

Os objetivos, por outro lado, eram semelhantes quanto à evolução espiritual do próprio alquimista. A arte alquímica ocidental, por sua vez, legou-nos uma infinidade de tratados e de textos, a mais das vezes absolutamente incompreensíveis, possivelmente porque já não possuímos mais a "chave" simbólica ou criptográfica para interpretá-los corretamente.


Os alquimistas chamavam seu trabalho de "Magna Opus", a Grande Obra e sobre ela é que foi dito que "ars longa, vita brevis" (a arte é longa e a vida é breve) e "ars totum requirit hominem" (a arte exige o homem por inteiro). Apesar das infinitas diferenças entre as escolas alquímicas, é possível estabelecer alguns pontos comuns. Os textos alquímicos, apesar da enorme disparidade que apresentam, concordam que a "Matéria" é "uma das coisas mais comuns sobre a Terra, encontrada em todas as partes em abundância e os homens não lhe dão o menor valor". Aqui já temos o começo do mistério. Em função disso, as diferentes escolas alquímicas operaram com os mais variados materiais. O sangue e os diversos fluidos corporais, o orvalho ou a água, a terra, as excreções, ossos, grama, chumbo e qualquer outra coisa em que se possa pensar foram utilizadas. Naturalmente, os alquimistas bem-sucedidos nunca revelaram sobre que elemento operaram para obter o resultado. Mesmo assim, sabemos que era por meio de um longo processo termo-químico, dividido em várias fases que a natureza da matéria original era transformada, de dentro para fora, por si mesma. O resultado final era como "luz do sol condensada", capaz de extrair a luz interior de qualquer metal e transformá-lo também em ouro. Segundo alguns relatos, ao final do processo a matéria dividia-se em duas partes: a sólida, uma pequena pedra, era a Pedra Filosofal. A líquida era o Elixir da Longa Vida, uma substância capaz de manter a juventude e a saúde indefinidamente. Isso ajudaria a explicar casos como o do Conde de Saint-Germain, que permanecia imutável ao longo dos séculos. Por outro lado, todos também concordam que a busca era extremamente perigosa, pois o "athanor", o forno filosofal, podia explodir ou a matéria emitir gases venenosos ou insalubres. Noites de vigília, jejuns, penitências diversas e muita prece deveriam acompanhar necessariamente o trabalho do alquimista.


Toda doutrina alquímica baseia-se na combinação entre os Quatro Elementos (fogo, terra, água e ar) e a chamada Trindade Alquímica: o Sal, o Enxofre e o Mercúrio, que não devem ser confundidos com os elementos físicos de mesmo nome.


O Sal era o chamado elemento fixador, por meio do qual as coisas mantêm a sua estrutura interior organizada e sua forma externa estável.


O Enxofre representava o elemento "Yang" (embora o nome oriental fosse desconhecido pelos alquimistas, o conceito era o mesmo), o de um componente vital em todas as coisas, uma chama secreta que nos transmite a vida e que habita em tudo em grau diferente.


O Mercúrio filosofal era o componente feminino, Yin, a força criadora receptiva e dissolvente, a mais sutil de todas, também presente em toda a Criação. Também é necessário não confundir com o Mercúrio Filosofal em seu aspecto de "Rebis", a "Coisa Dupla", o elemento misterioso no qual se conjugavam pela primeira vez as qualidades masculinas e femininas e que iria gerar a Pedra, como um "filho".


O que está bem estabelecido é que o trabalho dividia-se em fases. Primeiro vinha a chamada "Obra em Negro", ou "Cabeça de Corvo", ou fase da "nigredo". Era o estágio inicial, no qual a matéria era reduzida, calcinada pelo fogo, mas de forma calculada, a fim de que essa mesma calcinação gerasse um "vapor" e uma "umidade" que deveriam recair sobre a massa informe e trazê-la à "vida" novamente.


Na fase seguinte, a "albedo", a matéria era progressivamente purificada, tornando-se branca e adquirindo qualidades novas. A última fase, a "rubedo", consistia em "aquecer" novamente a matéria até que ela tomasse uma aparência de rubi, avermelhada e incandescente. Uma vez iniciado o processo era impossível revertê-lo ou renunciar a ele. A alquimia, portanto, era uma prática e um sistema de crenças que reuniam o domínio das técnicas físico-químicas com os objetivos da espiritualidade. Dessa forma, é natural que, ao longo dos séculos, fosse interpretada pelas novas ciências, como a Psicologia e a Psiquiatria. O trabalho de C. G. Jung na leitura do simbolismo alquímico como etapas de um processo de individuação abrange diversas de suas obras, principalmente "Misteryum Conniuctionis", "O Mito do Andrógino" e outros.



Rebis


ALQUIMIA HOJE



Como qualquer outro conhecimento oculto, a tradição alquímica prosseguiu intacta até nossos dias. Muitas escolas, ordens e grupos hermetistas dedicam-se ainda hoje à busca dos segredos alquímicos. No entanto, um dos mais poderosos e públicos exemplos foi dado nos anos 50, quando um homem chamado Fulcanelli publicou "O Mistério das Catedrais", um precioso documento ainda hoje pesquisado. Consta que ele também teria produzido ouro diante de testemunhas. Desnecessário acrescentar que pouco depois desapareceu sem deixar rastros, assim como tinha surgido. No Museu de Praga há moedas cunhadas com ouro alquímico fabricado em presença da Corte, tendo um grau de pureza nunca visto. Em nosso meio já foram vistos cristais "mágicos", fabricados por meios desconhecidos mas não propriamente alquímicos. Duas dessas peças vieram parar em minhas mãos. Tinham aspecto e dureza muito semelhantes aos do cristal de quartzo, mas possuíam a inquietante propriedade de mudarem de cor de acordo com o estado emocional de seu possuidor. Especialistas em Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul confessaram-se incapazes de determinar o que eram ou como foram produzidos. Esses exemplares permaneceram em meu poder por dois anos até que passaram a apresentar desagradáveis manifestações de energia negativa e foram dissolvidos em água corrente. Supostamente teriam sido fabricados por um grupo de alquimistas de São Paulo com ramificações em Montevidéu.


O LADO NEGRO


Devido ao enorme apelo que o ouro exerce sobre as almas mais primitivas, é natural que a história registre algumas aberrações supostamente relacionadas com a Alquimia. Os principais exemplos são: Gilles de Rais, que deu origem ao mito do Barbazul e a Condessa de Bathory. Ele foi enforcado depois do desaparecimento de vários meninos, o que chamou a atenção das autoridades. Em sua confissão Gilles admitiu que, com o auxílio de seus comparsas buscava fabricar ouro por meio do sangue das pobres crianças. Ao que parece, o demônio não ficou satisfeito com tanta "devoção" e Gilles foi executado com toda a pompa em fins de outubro de 1440. Em outro exemplo terrível de como a ignorância sobre a Alquimia pode reunir-se com a mera maldade temos o chocante exemplo da Condessa Elisabeth Bathory, da Hungria, que buscava a eterna juventude banhando-se no sangue de virgens que mandava seus agentes procurar entre as camponesas. Foi emparedada viva em 1610, acusada da morte de cerca de 600 jovens. Cabe notar que dentro das artes negras existem demônios tradicionalmente invocados como possuidores dos segredos da Alquimia. O primeiro é Barbatos, famoso entre os alquimistas sem fé, aos quais concedia o segredo da Pedra Filosofal em troca de suas almas. O segundo é Beherito, também conhecido como Berito, o qual passa por possuir o segredo da transmutação dos metais. Mesmo assim, dentre os raros alquimistas que lograram atingir o final da Obra não há registro de nenhum que tenha seguido por essas trilhas escuras e sangrentas.


A TÁBUA DE ESMERALDA


Para que o interessado possa prosseguir seus estudos sobre o tema, deve primeiro familiarizar-se com o texto que apresentamos a seguir e que é o compêndio mais autêntico e mais conciso sobre a Arte. É chamado de "Tábua de Esmeralda" e reza a Tradição que teria sido encontrado por um dos soldados de Alexandre Magno em sua Campanha do Egito. Foi traduzido para o latim por volta de 1200 e influenciou diretamente toda pesquisa alquímica dos próximos séculos. Estaria gravada em grego em uma placa de esmeralda (a pedra de Hermes/Mercúrio) e é a base de toda doutrina alquímica.


"É verdade, sem ficção, certo e muito verdadeiro.


Que aquilo que está embaixo é como o que está em cima,


E aquilo que está em cima é como o que está embaixo,


Para que se cumpram os milagres da Coisa Única.


Assim como tudo veio do Um por sua própria mediação,


Assim todas as coisas nascem dele por adaptação.


O Sol é o seu pai, a Lua é sua mãe, o Vento o embalou em seu ventre,


A Terra é sua ama.


Esse é o pai do mistério do mundo.


Sua força é poderosa se é convertida em terra.


Separarás a terra do fogo, o sutil do espesso,habilmente,


Com grande prudência e critério.


Sobe da terra ao céu e desce novamente do céu à terra, recolhendo


A força das coisas superiores e inferiores. Assim fazendo terás toda


A glória do mundo e toda treva se afastará de ti.


Essa é a força mais forte que a força, que vencerá tudo o que é sutil


E penetrará tudo o que é sólido.


Assim foi criado o mundo.


Disso derivam admiráveis adaptações cujo segredo está todo aqui.


Por isso fui chamado Hermes Trismegisto,


conhecedor das três filosofias do mundo.


O que eu disse da Obra Solar é completo."

Um comentário:

Anônimo disse...

De todas as explicações que eu vi realmente foi a mais interessante. Gostaria muito de entender mais sobre o assunto. Deise